Anos 50, o auge dos cinemas na capital paulista

por Antonio Ricardo Soriano
Tínhamos na capital paulista, os melhores cinemas do Brasil. Os principais localizavam-se no centro, onde ocorriam as principais estreias do cinema mundial, que exigiam deles e do público, um grande luxo. O traje principal era terno ou paletó, e sem eles era impossível a entrada. Nos cinemas, os carpetes eram impecáveis, os lanterninhas bem uniformizados e gentis, as poltronas confortáveis e a projeção clara e nítida.
Além dos cinemas do centro - a “Cinelândia”, região especial para as grandes estréias - existia os cinemas de bairro, hoje inexistentes. Geralmente esses cinemas ficavam em pontos estratégicos e centrais em suas regiões e recebiam um público muito especial: idosos e as crianças, que na época encontravam-se para a troca de “gibis”. Os principais eram o Imperial (Moóca), Esmeralda (Perdizes), Samarone (Ipiranga), São Jorge (Tatuapé), Hollywood (Santana), Piratininga (Brás), Carlos Gomes (Lapa), Recreio (Lapa), Nacional (Lapa), São Luiz (Pirituba), Piqueri (Pirituba), Clipper (Freguesia do Ó), e muitos outros.
Mas vamos ao “centro” das atenções, a “Cinelândia Paulista”; na Avenida Ipiranga tinha os cines Marabá e Ipiranga; na Avenida São João, os cines Olido, Metro, Regina, Paratodos, Jussara, Opera, Art Palácio e o Rivoli; na Praça Ramos de Azevedo (Rua Conselheiro Crispiniano), o cine Marrocos; na Praça da República, o cine República; na Rua Barão de Itapetininga, o cine Barão e no largo do Paissandu, o cine Bandeirantes e Paissandu, e muitos outros que, se citados, não caberiam nesta postagem.
O cine Marabá, um dos principais lançadores de filmes, e que os trocava todas as semanas, teve em 1951, a oportunidade de exibir o primeiro filme dos estúdios da Vera Cruz (localizados em São Bernardo do Campo/SP), chamado “Caiçara”, numa noite de gala, onde se encontravam as estrelas do filme e a banda da Guarda Civil, além de um show de luzes de holofotes.
Fachada do cine Marrocos
No ano seguinte, inaugurava-se o cine Marrocos, o cinema mais luxuoso da América do Sul, que se qualificava pela grande construção em mármore branco. Possuía, e ainda possui grandes salas de espera e de projeção, um chafariz luminoso e um imenso hall de entrada, em estilo grego. Em 1954, ano do IV Centenário da Cidade de São Paulo, ali se realizava, de 12 a 16 de fevereiro, o Festival Internacional de Cinema, com sessões especiais que tiveram a presença de nomes importantes da Sétima Arte, como Errol Flynn, Henry Langlois, Denise Werwake, Mazzaropi e outros. O filme de abertura do festival foi “Música e Lágrimas” (The Glenn Miller History).
Em 1954, a Comissão Municipal de Cinema, órgão da Secretaria da Educação e Cultura, tabelou os preços das entradas dos cinemas, diferenciados de acordo com as qualidades que eles ofereciam, isto é, com as quais eram classificados. Tais preços foram estabelecidos, houveram protestos, mas a “Cinelândia” continuou sendo o maior centro de diversão dos paulistanos (vencendo todos os esportes, bailes, shows de música, teatro, etc.). Mas tudo isto ocasionou a decadência dos cinemas de bairro, pois através de um estatuto da “Comissão”, os cinemas do centro se tornaram os únicos lançadores de novas produções.
Também em 1954, o cine República lançou inovações, como os filmes em Cinemascope, o som estereofônico e os filmes em 3ª dimensão, além de possuir, naquela época, a maior tela do mundo (250 m2).

Fachada do cine Olido
Duas inaugurações importantes ocorreram em 1957: as dos cines Olido e Paissandu. O Olido teve sua primeira projeção com o filme “Tarde Demais Para Esquecer”, e era o único a possuir um piano e uma orquestra. Já o Paissandu teve como “estranho” na época o uso de elevadores para chegar a sua sala de exibição.

Inauguração do cine Rivoli
Em 1958, surge mais uma “sala de emoções”: o cine Rivoli, que na noite de estréia exibiu o filme “A Volta ao Mundo em 80 Dias” e deixou erguido um enorme balão dirigível na Avenida São João. Tivemos, também, o surgimento das salas do Arcades e do Cairo.
No final dos anos 50, a cidade ganhava os cines Regina, Barão e Comodoro Cinerama. Alguns cinemas mudaram de nome, como o Bandeirantes, que passou a se chamar Ouro (com arquitetura em estilo Barroco); o Paratodos, depois Boulevard e o Rivoli, em seguida Ritz.
O Comodoro Cinerama foi inaugurado em 16 de Agosto de 1959 com o filme “Isto é Cinerama”. Ele trazia para o Brasil, um sistema único e exclusivo de projeção e som de estremecer as poltronas. Três projetores, simultaneamente, formavam uma imagem gigantesca, projetada em uma tela de 146 graus de curvatura.
Fotos do livro "Salas de Cinema em São Paulo", de Inimá Simões - 1990

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.