Os grandes cinemas projetados pelo arquiteto Rino Levi
Cine Ufa-Palácio
Endereço: Av. São João, 407 e 419 - Centro
Primeiro de uma série de cinemas projetados por Levi. A lotação total da sala, incluindo o balcão, era de 3119 lugares. Por aí se pode ter uma idéia das dificuldades de solução dos problemas de excesso de público, visibilidade e acústica. Projetado em 1936, o Ufa-Palácio tinha sua forma resultante da aplicação de modernos cálculos de acústica em projetos de salas de espetáculos. Além do rigoroso cálculo do volume, em função do tempo de reverberação desejado, a forma parabolóide das paredes, piso e forro, foram definidos para permitir a melhor distribuição das ondas sonoras. Na sala de exibições, as linhas de iluminação indiretas encaminhavam o olhar para a tela, não restando nenhuma outra atração nas superfícies internas que pudessem competir com o espetáculo. O cuidado com que, todos esses itens foram examinados, resultou no perfeito funcionamento, desta que foi uma grande casa de espetáculos.
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Cine Ipiranga
Endereço: Av. Ipiranga, 786 - Centro
O cinema e o hotel, que funcionavam no mesmo edifício, foram projetados, em 1941, por Levi. O hotel tinha cerca de 200 apartamentos. Dada a grande lotação proposta para o cinema (1936 lugares), a solução encontrada foi localizá-lo em nível superior à rua, ficando no andar térreo, apenas as entradas e as salas de espera. É obvio que essa condição levou a um minucioso estudo da circulação do público e, consequentemente, a um engenhoso esquema de escadarias que atendesse de maneira plenamente satisfatória a uma grande massa de expectadores. Um detalhe curioso, resultante desses estudos, refere-se à iluminação dos acessos: o acesso à sala era feito através de escadas e corredores de luminosidade decrescente. Desta forma, quando o público atingisse a sala, já estava adaptado à luminosidade da projeção. Durante a saída, o processo era inverso. Mais uma vez, os estudos de acústica da sala foram realizados pelo próprio arquiteto, usando em seus cálculos, apenas o volume da sala e alguns materiais absorventes. Devido a problemas arquitetônicos de espaço, este cinema tinha uma característica interessante, a posição da tela era invertida, ficando de costas para a rua.
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Cine Universo
Endereço : Av. Celso Garcia, 378
O cine Universo foi projetado em 1936 e inaugurado, em 1939, pela Empresa Cinematográfica Serrador Ltda. Era localizado no terreno que abrigou o antigo cine Polytheama do Brás e, posteriormente, o Circo Piolim. O cine Universo preservava a função de fornecer diversão para uma enorme massa de espectadores que habitava a região, por isso sua capacidade era de 4324 lugares. No centro do teto da sala de projeções havia uma abertura móvel que permitia a rápida renovação de ar e a eventual visão parcial do céu estrelado durante o espetáculo.
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Arquiteto Rino Levi
Rino Levi nasceu em 1901, de pais italianos, em São Paulo, onde freqüentou as escolas elementar e média. Fazendo seus estudos superiores na Itália, formou-se, em 1926, na Faculdade de Arquitetura de Roma. Ensinou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo e na Universidade Central da Venezuela. Foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (Departamento de São Paulo) e do Instituto Brasileiro de Acústica. Representou o Brasil em diversos países, em numerosos congressos, conferências e exposições de arquitetura. Venceu numerosos concursos. Faleceu em 1965.
“Para Rino Levi, a obra arquitetônica era a resultante de um conjunto de fatores que o levavam a considerar todos os detalhes necessários para que o projeto não fosse apenas uma solução estética, mas uma interação da beleza e da forma aliada à função; no jogo de volumes, a forma e a cor tinham objetivos não só estéticos, mas também sociais e psicológicos”.
Roberto Burle-Marx
Fontes de pesquisa:
Livros “Rino Levi” – Edizione Di Comunità – Milano Itália – 1974 e "Rino Levi: arquitetura e cidade", de Renato Anelli - Romano Guerra Editora - 2001
Texto atualizado em 14/11/2008
Theatro São Pedro: um tradicional cinema de bairro?
Sim, nos anos 20, o Theatro São Pedro, no bairro da Barra Funda, passa a funcionar mais como cinema, sendo raras as apresentações em seu palco. Em 1924, sua programação aparece nos jornais, em anúncios da Empresa Cinematográfica Reunidas, ao lado dos cinemas Avenida, Pathé, Marconi e Congresso, entre outros. Era o início de sua trajetória como “cinema de bairro”, com programas duplos e com uma freqüência fixa constituída pelos moradores da região, que mantinham o hábito de sempre se dirigir ao mesmo cinema, muitas vezes, sem verificar a que filmes iriam assistir.
___________________ Anúncio do cine São Pedro
Em 1941, o jornal “O Estado de S. Paulo”, na edição de 6 de julho, anunciava a reabertura do São Pedro, com “Platéia mais ampla – Poltronas novas – Som Western Eletric”, já sob controle da Empresa Cinematográfica Serrador, então com absoluta hegemonia no sistema de exibição de São Paulo. A partir de 1946, o São Pedro ganha um destaque na programação da empresa, com programas duplos (um filme novo e outro que já havia circulado) ou seriados em episódios. Em 1953, depois de uma avaliação da Comissão de Vistorias em Cinemas da Prefeitura Municipal, os proprietários do cinema são obrigados a realizar reformas, principalmente nos telhados e forros. A reinauguração acontece em 25 de janeiro do ano seguinte, com a exibição de “Candinho”, estralado por Mazzaropi. Com sua programação de filmes duplos, o já histórico Theatro São Pedro resistiria como sala de exibição até 1967. Uma nova fase, retornando a sua origem como teatro, era anunciada pelo jornal “Última Hora”, na edição de 1º de outubro: “Fernando Torres e Maurício Segall reabrirão as portas do Theatro São Pedro no próximo dia 29 de outubro”. Em 1968, o Teatro passa a ser administrado por Beatriz e Maurício Segall e nesse período se inicia a fase gloriosa do teatro. Assim, pouco mais de meio século depois de sua inauguração, as cortinas do São Pedro voltam a se abrir. Para o início das atividades o prédio foi parcialmente reformado. Em 1973, o teatro foi sub-locado à Secretaria de Estado da Cultura como sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência do renomado Maestro Eleazar de Carvalho. O Studio continuava abrigando montagens teatrais ainda liderados por Maurício e Beatriz Segall e continuava a ser sub-locado novamente para outros grupos até 1981, quando o prédio foi devolvido a seus proprietários, descendentes de Manoel Fernandes Lopes. Entre 1968 a 1981, foram montados inúmeros espetáculos, de grande relevância para a história dos palcos nacionais. Tombamento e desapropriação O processo de tombamento do Theatro São Pedro, que tramitava desde 1982, culminou em agosto de 1984, quando o então secretário estadual da Cultura, Jorge da Cunha Lima, declarou oficialmente a preservação da histórica casa de espetáculos. Em março de 1987, a partir do decreto de sua desapropriação, o teatro passou para a guarda e a responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura. Mesmo assim, mais de uma década transcorreu antes que ele fosse restaurado e voltasse a abrir suas portas para o público paulistano. A restauração Em 1998 o Theatro São Pedro finalmente foi restaurado. Uma reforma meticulosa recuperou suas características arquitetônicas originais que resgatam a memória artística paulistana se constituindo como um dos poucos referenciais da cultura do começo do Século XX que restam em São Paulo. A reforma foi marcada pela recuperação das linhas originais do prédio, conciliando uma moderna infra-estrutura de teatro, totalmente adequada às exigências dos espetáculos atuais. Sala Inorá de Carvalho No dia 19 de janeiro de 2002 foi inaugurada, num anexo do teatro, a Sala Dinorá de Carvalho, homenagem à pianista e compositora que, em seus 85 anos de vida, se dedicou ao estudo, à criação e à divulgação da música brasileira. A Sala Dinorá de Carvalho recebeu o piano Steinway que pertenceu à pianista. Foi idealizada para receber recitais e grupos de câmara e tem capacidade para 90 pessoas. Theatro São Pedro Rua Barra Funda, 171 - Barra Funda – São Paulo - SP Tel.: 3667-0499 Acesse o site. Imagens e textos extraídos do livro “Theatro São Pedro – Resistência e Preservação” (Secretaria de Estado da Cultura) e do site oficial do teatro.Grandes empresários da exibição cinematográfica: Família Severiano Ribeiro
Elétrico Cineclube
Os cinemas drive-in
Um cinema drive-in é uma forma de cinema que consiste em uma grande tela, tipo “outdoor”, uma cabine de projeção, uma lanchonete e uma grande área de estacionamento para automóveis. Dentro desta área fechada, os clientes podem ver filmes a partir da privacidade e conforto de seus carros.
A tela pode ser tão simples como uma parede pintada de branco ou pode ser uma estrutura de chapa de aço com um acabamento especial.
Originalmente, o som do filme vinha por alto-falantes instalados perto da tela ou por um alto-falante pendurado individualmente na janela de cada carro (como na foto abaixo). Este sistema foi substituído por um método de transmissão de trilha sonora em uma potência de saída baixa em rádios AM ou FM em uma determinada freqüência, para ser apanhada por todos os carros (mais econômico e menos propenso a danos materiais). Este método também permitiu que a trilha sonora fosse transmitida em estéreo.
Instalações
Tal como acontece com cinemas do interior, a lanchonete, também chamada de snack-bar, é onde um drive-in ganha a maioria de seus lucros. O snack-bar típico oferece qualquer alimento que pode ser servido rapidamente, como cachorro-quente, pizza, hambúrguer, pipoca, refrigerante, café, chocolate quente, sorvete, doces e batata frita.
Alguns gerentes de drive-in acrescentaram playgrounds para crianças, entre a tela e a primeira linha de carros. Outros ainda foram mais longe, como a adição de ferrovias em miniatura e mini-golfe.
História
Em 1932, Richard realizou vários testes em sua garagem. Após essas experiências, ele registrou, em 6 de agosto de 1932, uma patente de sua invenção, sendo aprovada em 16 de maio de 1933. Mas devido à falta de pagamentos de taxas devidas, acabou sendo julgado e teve a patente considerada invalida em 1950.
Com três investidores, Willis Smith, Edward Ellis e Oliver Willets, Richard formou uma empresa chamada Park-It Theatres e abriu, em 6 de junho de 1933, o seu primeiro drive-in, o Automobile Movie Theatre, numa grande área em Camden, New Jersey, EUA e custou cerca de US$ 60 mil dólares.
Ele anunciava o seu drive-in com o slogan "A família toda é bem-vinda, independentemente de como as crianças são barulhentas”. A tela tinha 12 de altura por 15 metros de comprimento com 6 alto-falantes RCA Victor. O primeiro filme exibido foi uma comédia britânica chamada Wives Beware, estrelado por Adolphe Menjou. O preço do ingresso foi de $0,25 por pessoa e $0,25 por automóvel, com um custo máximo de $1. Richard vendeu o cinema em 1935 e abriu outro.
A partir de 1934, outros drive-ins foram abertos:
Shankweiler's Auto Park, Orefield, Pennsylvania (15/04/1934)
Pico, Westwood, Los Angeles (09/09/1934)
Weymouth Drive-In Theatre, Weymouth (06/05/1936)
Em 1937, mais três foram inaugurados em Ohio, Massachusetts e Rhode Island, e mais doze, entre 1938 e 1939, na Califórnia, Flórida, Maine, Maryland, Massachusetts, Michigan, New York, Texas e Virginia.
A fase áurea
A fase áurea dos drive-ins veio no final dos anos 50 e início dos anos 60, particularmente nas áreas rurais, com cerca de 4.000 unidades espalhadas por todo EUA. Entre suas vantagens foi o fato de que uma família com um bebê poderia cuidar de seu filho enquanto assistia a um filme, enquanto os adolescentes também podiam ter acesso com seus automóveis.
Romantismo
Os drive-ins já foram retratados em inúmeros filmes clássicos, especialmente entre as décadas de 50 e 70, quando os cinemas ao ar livre eram bastante populares e faziam parte essencial da cultura norte-americana. Eram frequentados por todos, desde casais, que aproveitavam o clima romântico para assistir aos filmes na privacidade de seus próprios carros, até grupos de amigos, que preferiram drive-ins por ser um ambiente descontraído e onde, inclusive, era permitido o consumo de bebida alcoólica.
"Era o casamento perfeito", disse Susan Sanders, autora do livro The American Drive-In Movie Theatre. "Os jovens podiam se reunir ali e os estúdios perceberam que deviam fazer filmes para eles". Isso fica evidente em cenas clássicas de filmes como Grease - Nos Tempos da Brilhantina, de 1978, e De Volta para o Futuro III, de 1990.
Limitações e problemas
Durante os anos 70, alguns drive-ins começaram a mostrar filmes pornográficos para obterem renda extra. Isto se tornou um problema, porque permitiu materiais censurados estarem disponíveis para o grande público.
Declínio - causas
Nas décadas de 80 e 90, as grandes áreas, onde eram instalados os drive-ins, ficaram cada vez mais caras, para que eles pudessem operar com sucesso. Além disso, eles tinham maior público apenas no verão e com a criação do “horário de verão”, diminui em uma hora o horário noturno, fundamental para as exibições.
Com a chegada dos televisores em cores e dos videocassetes, os drive-ins tiveram a popularidade em declínio acentuado. Os poucos que sobreviveram a este período apelaram para uma audiência mais alternativa, exibindo principalmente filmes de baixa qualidade que eram bastante violentos e que exploravam temas de sexualidade.
Eles passaram a ter, de um modo geral, apenas frequentadores nostálgicos, apesar de alguns drive-ins ainda continuarem operando com sucesso em algumas áreas.
O retorno
Na virada do século, porém, os drive-ins se tornaram novamente populares e passaram a ser frequentados por casais e grupos de amigos, além de famílias inteiras.
Surgiu, também, o movimento Guerrilla drive-in, em que grupos de indivíduos se dedicam a projetar filmes ao ar livre. Estas apresentações são frequentemente organizadas pela internet e os participantes se reúnem em locais específicos para assistir a filmes projetados em pilares de pontes ou armazéns. Os conteúdos apresentados nesses encontros são de filmes independentes ou experimentais, filmes Cult ou outra forma de programação alternativa. Alguns encontros foram realizados em drive-ins.
O intuito dos drive-ins de hoje é justamente permitir que os frequentadores tenham uma experiência nostálgica, já que tudo no cinema drive-in, desde os cartazes e propagandas até a lanchonete e os desenhos que passam nos intervalos, entre os filmes, lembram as décadas de 50 e 60. O cantor e guitarrista canadense Bryan Adams diz em uma de suas canções mais populares: "Passava as tardes no drive-in e ali foi onde lhe conheci", antes de afirmar: "Aqueles foram os melhores dias da minha vida".
Fontes de pesquisa (sites):
Oi Toronto
Cinema com Rapadura
Wikipedia
Leia mais sobre cinemas ao ar livre no Brasil:
A última sessão
O maior cinema ao ar livre do país
Cine Drive-in de Brasília - Pura nostalgia
O Cine Drive-in de Brasília no Fantástico
Fantástico conta a história de Marisa, uma mulher piauiense que trabalha em um drive-in de Brasília
Leia mais sobre “drive-ins” no mundo:
Cinema Treasures - Drive-ins
Austrália
Australian Open Drive-in Theatres
Alemanha
Evented Erlebnismanagement
Canadá
5 Drive-in Theatre
Twilight Drive-in
Estados Unidos
Blue Starlite Urban Boutique Drive-in Theatre
Starlight Drive-in Theatre
Mission Tiki Drive-in Theatre
Vali-Hi Drive-in Theatre
Delsea Drive-in Theatre
Van Buren Drive-in Theatre
Skyview Drive-in Theatre
Rubidoux Drive-in Theatre
Transit Drive-in Theatre
Inglaterra
Starlite Urban Drive-in
Leia sobre exibições ao ar livre:
Telas infláveis
Hollywood Outdoor Movies
Recine
O maior cinema ao ar livre do país
Possui 15 mil metros quadrados de área asfaltada, capaz de acomodar 500 veículos em seu estacionamento, tela de concreto medindo 312 metros quadrados e ótima projeção.
Asa Norte
Área especial do Autódromo
www.cinedrivein.com
cinedrivein@cinedrivein.com
https://www.facebook.com/cinedrivein
https://www.instagram.com/cinedriveinoficial
Memórias fotográficas
Florista do Largo do Arouche (1942)
Destaque para os cartazes dos cines Bandeirantes (Largo do Paissandu, 138) e Art Palácio (Av. São João, 419), divulgando os filmes “Vidas sem rumo” e “Pérfida”.
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Banca de jornal sob o viaduto Santa Efigênia e ao fundo, o edifício do Banespa (década de 50)
Destaque para os cartazes dos cines Broadway (Av. São João, 560), Bandeirantes (Largo do Paissandu, 138), Art Palácio (Av. São João, 419) e Ipiranga (Av. Ipiranga, 786), divulgando os filmes “O direito de nascer”, “Sinhá moça” e “Mentira salvadora”.
Fotos do livro “Cadernos de fotografia brasileira – São Paulo 450 anos” - Instituto Moreira Salles – 2004.
Clique nas fotos para ampliá-las.
Cine Niterói: o marco dos imigrantes japoneses no bairro da Liberdade, na capital paulista
Por Francisco Noriyuki Sato (Formado em jornalismo e publicidade pela Universidade de São Paulo, escreve sobre história e cultura japonesa. É autor do livro "História do Japão em Mangá", do álbum "Filosofia do Samurai na Administração Japonesa", e adaptou o livro "Xintoísmo em Mangá" para o português)
Para falar desse assunto, visitamos o Sr. Susumu, único sobrevivente dos irmãos da família Tanaka, que foi proprietária do cine Niterói.
Susumu Tanaka nasceu em Osaka, no Japão, e veio para o Brasil em 1923, com 10 anos de idade. Trabalhando na roça, passou por diversas fazendas cafeeiras em São Paulo e Paraná, até que chegou a Santa Mariana, no Paraná, junto com sua família. Nessa cidade, os irmãos Tanaka prosperaram bastante, primeiro como cafeicultores e depois como comerciantes de café e feijão. Yoshikazu Tanaka, o irmão mais velho, tinha 7 anos a mais de idade do que Susumu. Tendo trabalhado como repórter num pequeno jornal no Japão, estava mais habituado à vida urbana, e também era o que tinha a saúde mais frágil dos três irmãos homens da família. Por isso, Yoshikazu atuava mais com compras e vendas, viajando constantemente. O comércio de feijão dos irmãos ia tão bem, que quando Yoshikazu visitava a Bolsa de Cereais de São Paulo, era chamado de “Rei do Feijão”. Com o falecimento precoce do patriarca, o irmão mais velho Yoshikazu assumiu todo o direcionamento dos negócios da família, como acontecia entre os japoneses naquela época. Na década de 50, o irmão mais novo, Iwao, tinha uma serraria em Uraí, também no Paraná, e todos os negócios estavam indo bem. Tão bem que Susumu estava comprando uma fazenda cafeeira de 200 alqueires em Cornélio Procópio, mas no dia de fechar o negócio, na propriedade em questão, apareceu Yoshikazu de surpresa. “Você vai mesmo comprar essa propriedade?”, perguntou o mais velho. Depois de um rápido diálogo, Susumu desistiu do negócio, porque Yoshikazu tinha uma idéia que acabaria mudando a vida dos imigrantes japoneses no Brasil. Ele queria fundar uma sala de cinema! O idealista Yoshikazu Tanaka lutou muito, comprou o terreno da Rua Galvão Bueno e construiu um cinema do zero, sem ter tido qualquer experiência anterior. Viajou ao Japão e fez acordo com a distribuidora Toei para exibir as películas dessa grande empresa, no momento em que o Japão vivia o “boom” de produção cinematográfica. Parte das madeiras veio da serraria de Iwao, e o capital necessário saiu do comércio de feijão de Santa Mariana. “Esse cinema não foi construído de cimento, esse cinema foi feito com feijão”, teria dito Katsuzo Yamamoto, cerealista e amigo da família, no discurso de inauguração do cinema. O capital gasto foi surpreendente para a época. Além da grande sala de cinema de dois andares, com 1500 poltronas estofadas, no térreo, o prédio contava com um restaurante no primeiro andar; um hotel nos dois andares seguintes, e um salão de festas no último pavimento. Era um empreendimento que certamente encheu de orgulho, não só a família Tanaka, como também toda comunidade japonesa, que saía da triste situação do pós-guerra, quando o seu país foi derrotado. O ano era 1953, e o primeiro filme exibido foi “Genji Monogatari”, traduzido como “Os Amores de Genji”. Todos os filmes eram legendados e toda segunda feira entrava um novo filme no projetor. 20 mil pessoas passavam pela sala todas as semanas. Ao contemplar a alegria dos japoneses que lotavam sua casa, Yoshikazu resolveu ser ainda mais ousado para dar ainda mais alegria ao seu público: foi ao Japão buscar os protagonistas dos filmes para se apresentarem na estréia das películas. Isso aconteceu várias vezes, e um dos convidados foi Koji Tsuruta, um galã na época. Nessas ocasiões, o convidado se hospedava no hotel da família, e as recepções aconteciam na ampla sala da casa de Susumu. Sua filha, Zelinda, ainda se lembra dessas festas, quando a sua casa ficava cheia de destacadas personalidades da época. ______ Zelinda, em 1962 (Acervo pessoal) Com o sucesso do Niterói, mais três salas surgiram no mesmo bairro para atender ao público nipo-brasileiro. Muitos filhos de agricultores vinham para estudar e trabalhar em São Paulo, tendo como referência essas salas. E com isso, a Liberdade acabou se tornando o “bairro japonês". Comerciantes como Hirofumi Ikesaki, confessaram que se instalaram na região atraídos pelo grande movimento do cine Niterói. Apesar de a região contar com a Rua Conde de Sarzedas, onde se instalaram os primeiros imigrantes japoneses em São Paulo, durante a Segunda Guerra Mundial eles foram forçados a deixarem o local, e no período pós-guerra, muitos comerciantes se dirigiram para as proximidades da Praça da Sé. A Rua Senador Feijó, por exemplo, abrigava a agência número 001 do Banco América do Sul. O empresário Katsuzo Yamamoto, aquele do discurso do feijão, almoçava seguidas vezes no restaurante do Niterói, e foi lá que reuniu seus amigos para tratar da fundação do Nippon Country Club, que aconteceria em 1960. A época áurea do cinema passou, quando, em 1968, o local foi desapropriado para a construção da Avenida Radial Leste-Oeste. Com o valor da indenização muito abaixo do real, a família só pôde adquirir um prédio na Avenida Liberdade, onde antes funcionara o cine Liberdade. Essa sala só tinha 933 lugares. Mesmo assim, a sala não lotava como antes e a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais acabou por afastar o seu público. Em 1984, o Niterói parou de importar filmes, e anos depois a sala foi fechada. Os demais concorrentes, Jóia e Nippon desapareceram na mesma década. Nenhum resistiu à chegada dos videocassetes nas casas. Curiosidades 1) Os amigos brasileiros de Susumu sempre perguntavam o porquê do nome do cinema, pois Niterói é no Rio de Janeiro, estado que tem rivalidade com São Paulo. Susumu tinha uma resposta na ponta da língua: Niterói é soma de Nitto e Herói. Nitto é Japão, portanto, significa “Herói do Japão”! 2) Outros cines que se especializaram em filmes japoneses: Tokyo (fundado em 1954 na Rua São Joaquim – hoje é uma igreja evangélica), Jóia (fundado em 1958, no final teve o nome de Shochiku na Praça Carlos Gomes – hoje é uma igreja evangélica), Nippon (fundado em 1959 na Rua Santa Luzia – hoje é sede da Associação Aichi Kenjin). Cada cinema representava uma grande companhia japonesa. Tokyo exibia filmes da Nikkatsu, Niterói da Toei, Nippon da Shochiku, e Jóia da Toho. 3) O cine Nippon pertencia à família Mizumoto, que tinha (e tem) uma loja de presentes na Rua Galvão Bueno. Depois do fechamento desse, ela assumiu o cine Jóia, mudando de nome para Shochiku, que é a companhia que representava. Texto extraído do site Cultura Japonesa. Leia, também, o texto “A Cinelândia da liberdade” de Lucia Nagib (crítica de cinema japonês e professora da Universidade de Campinas) publicado no site *Fundação Japão. * Fundação Japão - É uma organização vinculada ao Ministério das Relações Exteriores do Japão, estabelecida em 1972, cujo objetivo é promover o intercâmbio cultural e a compreensão mútua entre o Japão e outros países. O escritório em São Paulo foi inaugurado em 1975 e desde então, atua como uma porta de comunicação entre a Fundação Japão e o Brasil, desenvolvendo diversas atividades. A Fundação Japão desenvolve seus programas e atividades nas três categorias principais seguintes:1) Intercâmbio Artístico e Cultural - 2) Ensino da Língua Japonesa no Exterior - 3) Estudos Japoneses no Exterior e Intercâmbio Intelectual. Além disso, como parte da reforma estrutural de maio de 2004, foi criado o Information and Resource Center para prover informações e incentivar o intercâmbio internacional. Local: Avenida Paulista, nº 37, 1º e 2º andares - Paraíso - 01311-902 - São Paulo - SP - Tel.: 11 3141-0110 / 3141-0843Biblioteca Pública Roberto Santos inaugura sala e acervo temático de cinema
Em 14 de junho, a Biblioteca Pública Roberto Santos receberá acervo especializado de cinema. Localizado no Ipiranga, o novo núcleo de referência no gênero oferecerá acervo bibliográfico e audiovisual.
Para a caracterização do espaço foram investidos, pela Secretaria Municipal de Cultura, R$ 160 mil. Esta quantia foi empregada na compra de acervo temático, mobiliário, equipamentos para a sala de cinema, com 101 lugares, projetor e outros equipamentos. O acervo total da unidade soma agora mais de 31 mil livros, dos quais cerca de 400 tratam exclusivamente de assuntos relacionados a cinema.
O acervo de filmes também ficará disponível ao público e terá, inicialmente, 502 títulos cinematográficos. Assim como a seleção do acervo, a curadoria da programação da sala de exibição do local será feita por Célio Franceschet.
Em torno de duas vezes por mês o Cineclube Ipiranga irá programar sessões de filmes em 16mm.
Além de trazer exibições de filme, a biblioteca oferecerá, no futuro, shows musicais pautados por trilhas sonoras de filmes brasileiros e internacionais, cursos que discutam a relação entre cinema e literatura, oficinas de roteiro para curta-metragem, cultura cinematográfica para formadores de opinião como professores e o ensinamento das bases para a crítica de cinema. O antigo auditório de 101 lugares foi reformado e alguns equipamentos foram adquiridos com o apoio da Subprefeitura de Vila Mariana.
A inauguração do núcleo temático em cinema da Biblioteca Pública Roberto Santos é parte do projeto “Bibliotecas Temáticas”, que a Secretaria Municipal de Cultura vem desenvolvendo desde 2006.
Biblioteca Pública Roberto Santos - Endereço: Rua Cisplatina, 505 Ipiranga - Telefone: (11) 2273-2390
Texto extraído do site da Prefeitura de São Paulo.
A época de ouro dos cinemas
Mais de 50 anos de cinema e remanescente da "Época de Ouro" do cinema.
Trabalhou 30 anos no grupo Sul/Paulista.
Foi diretor de publicidade da Warner/Columbia.
E-mail: caetano_filho@uol.com.br
Fone: (11) 8196.3587
Nos anos 50, a cidade de São Paulo era o coração cinematográfico do Brasil, no qual participei, de todos os grandes eventos.
Para analisar a extensão da tela do cine República
Tínhamos o cine República, com a maior tela do mundo, onde eram exibidas as grandes produções em Cinemascope e 3ª. Dimensão. O cine Olido, com orquestra e poltronas numeradas. O Ritz exibia os grandes Westerns, e posteriormente, totalmente reformado, exibiu o filme “A volta ao mundo em 80 dias”, passando a se chamar Rivoli. O cine Normandie exibia as grandes produções francesas, como por exemplo “O Salário do Medo”, de Henry Georges Clouzout, e outros grandes filmes, com todos os grandes atores franceses da época, como Martine Carol, Jean Gabin, entre outros. O cine Comodoro, com o sistema Cinerama, foi uma das grandes sensações da época. O cine Marabá, tinha a maior freqüência de público do Brasil, chegando a exibir filmes para até 65.000 expectadores por semana.
A inauguração de um cinema era uma verdadeira apoteose, com a presença do Governador do Estado, Prefeito e altas autoridades, onde o traje a rigor era obrigatório. Não podemos esquecer, também, dos grandes musicais exibidos no cine Metro.
Além do público normal no centro de São Paulo, os cinemas eram freqüentados pela nata da sociedade paulistana, que se deslocavam da zona sul para o Centro, para assistirem as grandes produções estrangeiras. Existem tantos outros fatos para serem contados, sobre o que era o cinema daquela época, que daria para escrever um livro.
Histórias e lembranças dos antigos cinemas da cidade de São Paulo
O livro SãoPauloMinhaCidade.com - Mais de Mil Memórias reúne histórias e lembranças, desde o século passado até os dias de hoje, de 312 moradores e ex-moradores da cidade, brasileiros ou estrangeiros, dos mais diversos estilos, faixas etárias e regiões da capital paulista que, nos últimos três anos, contribuíram com 1.500 histórias, além de mais de 5 mil comentários, dos mais diversos temas, no site desenvolvido pela São Paulo Turismo. Destaque para o capítulo “Cines e matinês” dedicado aos antigos cinemas da cidade de São Paulo.
O livro, que não terá comercialização, será distribuído nas bibliotecas públicas da cidade e todo o seu conteúdo está disponibilizado em PDF gratuitamente no site (clique aqui).
O livro traz ainda uma surpresa, um CD coordenado pelo jornalista Assis Ângelo, com depoimentos de compositores que, literalmente, cantam São Paulo, como Zica Bergami, de Lampião de Gás; Paulo Vanzolini, de Ronda e tantas memoráveis letras; Alberto Marino e a Rapaziada do Brás; Osvaldinho da Cuíca, entre outros. O conteúdo deste CD está disponível, para download, no site (clique aqui).
Texto extraído do site São Paulo Minha Cidade.