Profissionais da exibição: Benedito Carlos Silva, projecionista

Uma vida atrás do projetor

Conheça a história de Benedito Carlos Silva, o projecionista que trabalhou por 25 anos no cine Gemini

Por Mariana Zylberkan (para o jornal “Diário de S. Paulo”, de 29/09/2010)

O projecionista Benedito Carlos Silva, de 51 anos, é preciso ao contar o tempo que dedicou a exibir filmes no cine Gemini até o encerramento de suas atividades, no último domingo: "Foram 25 anos, 14 dias e algumas horas", diz.

A resposta reflete não apenas o pesar de ter encerrado a história de um dos cinemas mais emblemáticos da cidade, mas também o prazer de exercer a profissão que escolheu aos 12 anos de idade, quando morava em Francisco Alves, no Paraná. Foi no pequeno cinema da cidade, administrado pelo padre da igreja, que Benedito deu os primeiros passos no ofício de projetar filmes. "Ia sempre ao cinema e fazia a maior bagunça com as outras crianças. Por isso, fui proibido de assistir aos filmes na plateia. Só podia ver na cabine de exibição".

A partir daí, o que era para ser um castigo se transformou na maior paixão de sua vida. Benedito passou a ir todos os fins de semana ao cinema para aprender a rebobinar rolos de filme e montar o projetor.

A função de ajudante foi logo ultrapassada depois que o único projecionista da cidade teve um enfarte e ficou impedido de continuar trabalhando. "O cinema é a minha paixão. Deixei de estudar e aceitar boas propostas de emprego para me dedicar a isso", diz ele sobre a profissão que exerce há 30 anos.

Em São Paulo, Benedito trabalhou na cabine de cinemas que fizeram parte da história cultural de São Paulo, como Comodoro, Marabá, Ritz, Olido, Iguatemi, entre outros.

Além de funcionário, Benedito é também um frequentador assíduo das salas de cinema da cidade. Até quando está em casa ele não deixa de lado a sétima arte e conta estar sempre na frente da TV assistindo um dos 200 DVDs de sua coleção. "Gosto de filmes de bangue-bangue", diz o projecionista.

Foto: Daniel Pera/Diário SP

Profissionais da exibição: Projecionista

Vai dar rolo
Projecionistas - Carreira: muitos funcionários passam para as cabines depois de trabalharem na portaria. Que carreira? A profissão não é regulamentada por lei

Por Juliana Araújo (para o jornal “O Estado de S.Paulo”, de 25/02/2008)

O pipoqueiro e a simpática recepcionista que me perdoem, mas a figura mais importante do cinema fica escondida dentro da cabine - o projecionista. É a performance deste profissional que define a qualidade da sessão de um filme em 35 milímetros. Para aprender a montar um filme, ajustar o som ou o foco, no entanto, não existe escola. Os operadores cinematográficos aprendem a trabalhar na prática.

Em cinemas como Espaço Unibanco, Reserva Cultural e Belas Artes, é comum que projecionistas experientes ensinem o ofício a ex-porteiros e até a ex-faxineiros. "Tentamos criar uma espécie de plano de carreira", afirma a gerente do Reserva, Cynara Regina de Oliveira. Ex-porteiro do extinto cineclube Vitrine, José Alberto começou a treinar com os colegas um ano antes de ir para as cabines do Espaço Unibanco. Hoje, orgulha-se de ter ensinado a função para um dos projecionistas do Unibanco Arteplex, que era porteiro na antiga Sala UOL .

O diretor de programação do grupo Espaço de Cinema, Adhemar de Oliveira, explica que a empresa tem uma "política de formação de quadros próprios". Operador há mais de 25 anos, Jucelino Silva é outro exemplo: experiente, faz até pequenos consertos nos equipamentos.

Presidente do Sindicato dos Operadores Cinematográficos de São Paulo, Benedito Carlos Silva também aprendeu observando, há mais de 25 anos. Mas hoje defende a criação de um curso que prepare os futuros projecionistas. "Alguns cinemas contratam pessoas inexperientes e as jogam nas cabines", diz ele. "Não é difícil fazer o trabalho, mas algumas técnicas e cuidados devem ser ensinados". Benedito infernizava as sessões de uma sala de Guaíra, no interior do Paraná, até que foi mandado 'de castigo' para a cabine. Quando o projecionista morreu, ele era o único que sabia operar a máquina. Em pouco tempo, a oportunidade virou ofício. Além do treinamento, ele considera que a qualidade da projeção depende da quantidade de filmes que cada operador coordena - até três é o ideal, no caso de cabines individuais.

Nos cinemas multiplex, em que todos os projetores ficam em uma só sala, redes como a Cinemark mantêm no máximo dois operadores. "Um sozinho já conseguiria cuidar de tudo tranqüilamente", diz Luciano Silva, gerente do departamento técnico.

Para garantir a qualidade da projeção, os funcionários da Cinemark - a maioria com 2º grau completo - passam por um treinamento padrão de 30 dias. Além disso, uma equipe especializada faz manutenção preventiva nos projetores de todas as salas a cada trimestre. Os outros cinemas também têm técnicos, mas os projecionistas, de tão experientes, é que acabam responsáveis pela manutenção.

Fotos do blog "Fetiche de Cinéfilo", de Armando Maynard.

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Muito obrigado a Maisa Infante (Editora) e toda equipe da Revista do Tatuapé, pela divulgação do blog.
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Quando a porta do cinema dava para rua

Por Osmar Mendes Junior
No ensolarado domingo, mais exatamente nas primeiras horas do dia, após uma noite de sono tranqüila e uma substanciosa refeição matinal, eu tive a ousadia de ligar o computador para consultar os meus perfis nas duas mais concorridas redes sociais da Internet: o "Twitter" e o "Facebook". Eu deveria ter aproveitado aquela bela e clara manhã de verão para realizar algo mais interessante, como uma saudável caminhada pelas ruas do meu bairro, mas não resisti aos apelos dessa maquininha infernal que se instalou definitivamente na minha existência. Então, uma animada conversa que se desenvolvia entre os meus amigos do Facebook chamou a minha atenção pelo assunto palpitante que tratava: o triste sumiço dos cinemas de rua na cidade de São Paulo. Lamentava-se o fato daquelas simpáticas salas, que um dia enfeitavam e coloriam ruas, alamedas, praças e avenidas, terem sido transformadas em frios estabelecimentos comerciais, em feios e improvisados estacionamentos ou em tenebrosos e suspeitos templos religiosos, que assustam as suas obedientes plateias com ameaças de punições para pecados inevitáveis.



Os “Windsors”, os “Brasílias”, os “Normandies”, os “Jussaras” e os “Ritz” e tantos outros já não existem mais. É triste, mas essa é a dura verdade! Aquelas salas cheias de glamour, onde moravam o sonho e a imaginação e que, antes da chegada da televisão no Brasil, tantas alegrias proporcionaram para os paulistanos nas décadas de quarenta, cinqüenta e sessenta do século passado agora fazem parte de doces e históricas recordações manifestadas em bate-papos nas redes sociais. Eu disse televisão? Pois foi exatamente na televisão que uma saudosa sala paulistana de cinema teve o seu dia de glória. Foi em 17 de abril de 1966, há 45 anos. O cinema se chamava Universo (veja o que restou da fachada dele na foto acima), ficava em uma galeria no número 360 da Avenida Celso Garcia, no Bairro do Brás, e tinha duas características que lhe davam grande destaque no mundo da cinelândia brasileira: uma imensa plateia com 4.324 lugares que lhe conferia o status de ser a maior do Brasil e um incrível teto móvel que se transformava em gigantesca clarabóia em noites de calor, conforme você pode conferir na foto abaixo.

Foi no “Cine Universo” que o cantor Roberto Carlos, aquele que parava o calhambeque na contra-mão e queria que tudo mais fosse para o inferno, comemorou seus 25 anos de idade com um show espetacular que reuniu as maiores estrelas da “Jovem Guarda”. O agitado, barulhento e concorrido programa musical comandado pelo “Rei da Juventude” era um fenômeno de popularidade e um dos mais vistos da TV Record, que, com apenas 13 anos de existência (a emissora foi inaugurada em 23/09/1953), “roubava” os espectadores dos velhos, charmosos e simpáticos cinemas de rua, que iniciavam a fase de irreversível decadência. Coincidentemente, aquele 17 de abril de 1966 também foi um domingo ensolarado e bonito. E eu vi o show do “Brasa” de casa, com a família, na minha televisão portátil. As imagens eram transmitidas em preto e branco. Nunca mais esqueci.

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.