O que restou dos templos da sétima arte do Centro de São Paulo

Por Roberto Gabler Forni (Engenheiro Químico e Cinéfilo)
Na década de 70, quando as compras eram feitas na loja de departamentos Mappin e o Playcenter era o parque de diversões dos sonhos das crianças paulistanas de classe média, meus pais me levaram ao cinema para assistir “Superman - O Filme” (1978), de Richard Donner, com Christopher Reeve. A primeira vez não podia ter sido melhor: a sala de cinema possuía não uma, nem duas, mas sim, três telas. Era o Cinespacial, na Avenida São João. Seu interior fazia jus a seu nome: lembrava o interior de um disco voador. A casa estava cheia: tivemos que nos sentar em alguns degraus que havia no local por falta de assentos livres. Mesmo assim, foi o máximo! Fazia parte, pois o espetáculo compensava o pequeno desconforto. Defronte ao Cinespacial, segundo o letreiro com um comprimento igual ao da fachada, estava sendo exibido no cine Comodoro, o filme “Grease - Nos Tempos da Brilhantina” (1978), musical com John Travolta e Olívia Newton-John, na única sala dotada do sistema Cinerama de projeção da cidade (tela côncava e película em 70 mm). Daí em diante, não parei mais de frequentar os cinemas do Centro.

O cine UFA-Palácio
Concentrados, a maior parte, na região entre o Largo do Paissandu e o Elevado Costa e Silva (conhecido como “Minhocão”), lá se encontravam também as salas mais convencionais, como os cines Regina, Olido, Marabá, Ipiranga, Paissandú, entre outras. Algumas delas fizeram parte de momentos históricos ou curiosos. O cine Art Palácio, por exemplo, chamava-se originalmente UFA-Palácio. Inaugurado em 1936, ano da passagem do dirigível Hidenburg por São Paulo, foi construído especialmente para divulgar material de propaganda nazi-fascista. UFA era o nome de um estúdio de cinema subsidiado pelo governo alemão na década de 30. Já o cine Paissandú foi usado, recentemente, como cenário para uma sequência do filme brasileiro “Tapete Vermelho” (2006), com Matheus Nachtergaele.
Entre os anos 80 e 90, eu mal esperava para chegar o fim-de-semana, para comprar o jornal e ver a programação de filmes que estavam sendo exibidos, escolhia um, pegava o ônibus Vila Mirante-Praça Ramos e, tão fanático quanto um católico praticante que vai à igreja, ia ao cinema. Até os rituais eram indispensáveis: o “sinal-da-cruz” na sala de espera era dar uma olhada nos pôsteres dos filmes a serem exibidos “em breve”, a “oferenda” era o trocado deixado na bilheteria para a compra da entrada (que, na época não passava do equivalente a R$ 5,00) e a “hóstia” era a pipoca. “Ficar de pé para ouvir o sacerdote” era fazer silêncio quando as luzes da sala de exibição se apagavam. E neste momento, no ”altar” que era aquela grande tela branca, “versículos” na forma de documentários do Primo Carbonari e trailers nos preparavam para mais uma experiência “divina”. Essa experiência poderia ser voar como um super-herói, viajar para mundos fantásticos, participar de incríveis perseguições de carros, apavorar-se com monstros ou alienígenas, ficar aliviado com a morte do vilão, desvendar mistérios, rir, chorar... enfim, todas as emoções proporcionadas pela sequência de imagens registradas em legítimas películas de longas-metragens. Tal qual um “transe espiritual”, a “adoração” à Sétima Arte era feita em “templos” construídos especialmente para nos introduzir num mundo diferente, o da imaginação.
Mas, com as inovações tecnológicas, vieram também as mudanças dos hábitos culturais. Essas mudanças, que haviam começado timidamente em meados do século passado com a chegada da televisão, foram impulsionadas nos anos 80 pelos videocassetes e o “entretenimento doméstico” começou a predominar no lazer dos paulistanos, juntamente com os videogames, que podiam ser alugados em videolocadoras bem ali, pertinho de casa. E as salas de cinema do Centro, da época de glamour de outros tempos, que já exibiram desde “chanchadas” nacionais a grandes produções hollywoodianas, foram aos poucos sendo esquecidas. A queda na bilheteria diminuía as verbas para a manutenção e estado geral de conservação, refletindo na falta de conforto que acabava por afugentar até os frequentadores mais fiéis como eu. E para agravar ainda mais a situação, a região do entorno da avenida São João passou a se degradar com a maior incidência de traficantes de drogas, moradores de rua, pedintes e prostitutas. Os cinemas acabaram, na maioria, fechando suas portas, ou cedendo seus espaços para templos evangélicos, bingos, estacionamentos e outros. As salas que se mantiveram abertas exibem apenas filmes pornográficos e são usadas por prostitutas e homossexuais para programas.
Hoje, as lojas de departamentos foram substituídas pelos shoppings centers e hipermercados, os “templos do consumo”. Quem iria a um local sem vaga para estacionar o carro como o Centro, se o shopping oferece vagas cobertas e seguras? Quem iria a um local perigoso e com marginais, se o shopping possui seguranças e câmeras de vigilância? Quem iria a um local feio e sujo, se o shopping possui vitrines iluminadas, bancos e banheiros limpos? Que mãe levaria as crianças ao Playcenter, se o shopping possui mini-parques de diversão para elas deixarem as crianças com os pais enquanto procuram aquela bolsa chique? Assim, as salas de cinema migraram para o interior desses grandes centros comerciais, tornando-se parte de um local de convivência e lazer. Pode-se passar um dia inteiro neste local, pois nele possui até praça de alimentação para as refeições. Mas essa mudança tem uma desvantagem: quando antes uma família com até três filhos não gastava mais que R$ 15,00 em uma tarde no cinema do Centro (pois as crianças pagavam meia-entrada), hoje essa mesma família não gasta menos que R$ 60,00, somando o valor do estacionamento, das entradas do cinema (que hoje não sai por menos de R$ 15,00 a inteira), da pipoca e das refeições. Se incluirmos o valor das inevitáveis compras de roupas ou acessórios, sem falar nos eletrodomésticos, e ainda o sorvete, os brinquedos e as fichas nos mini-parques de diversão para os filhos, o gasto em uma tarde num shopping center de São Paulo pode passar dos R$ 500,00.
O “entretenimento doméstico” continuou evoluindo. As TV´s a cabo e por satélite chegam ao Brasil, as fitas em VHS são substituídas pelos discos de DVD ou por vídeos na internet , os televisores com LCD possuem maior resolução que aqueles velhos aparelhos com tubos e agora a grande novidade é o sistema digital, ou “HDTV”. Mesmo que o cristal líquido ou as telas com maior quantidade de pixels por centímetro quadrado consigam ter um impacto semelhante ao do celulóide da película cinematográfica, ou que se instalem caixas acústicas na sala de casa, a magia do cinema é inigualável. A sala de exibição é escura, para que a única coisa que exista naqueles breves noventa ou cento e vinte minutos seja um mundo fantástico visto por aquela janela chamada “imagem em movimento projetada na tela”.
Um filme é uma obra de arte, que deve ser exposta em um espaço especial. Uma pintura valiosa geralmente é apresentada em uma galeria, a menos que um colecionador milionário possa adquiri-lo e pendurá-lo na parede de casa, o que, neste caso, torna a sua apreciação menos pública. Nem todo mundo pode ter um Rembrandt em casa. Por outro lado, “Casablanca” geralmente é exibido na sessão coruja ou num horário menos nobre que o “Big Brother”, tamanha é a banalização desta obra de arte. Um religioso praticante que assiste ao culto num templo renova sua fé de forma mais intensa que alguém que têm apenas uma imagem colocada na estante perto da televisão.

O novo cine Marabá totalmente retaurado e reformado
Porém, para a felicidade dos fãs das velhas salas de cinema do Centro, a boa notícia é que o cine Marabá (na Avenida Ipiranga), que esteve fechado desde 2007, teve cinco salas reabertas em maio deste ano, tendo sido totalmente reformado, graças à exibidora Playarte. É uma boa notícia. O que é bom pode ser melhorado, mas nunca esquecido!

Cinemas de luxo eram as vedetes

Por Roberto Hirao (Colunista do jornal “Agora São Paulo” e autor do livro “70 Lições de Jornalismo” – Editora Publifolha – 2009)
O Marabá é um gigante diante das atuais salas dos shoppings, mas é pequeno se comparado com os cinemas antigos. Havia em São Paulo, na primeira metade do século passado, uma obsessão pelo grande. No Brás, duas salas disputavam o título de maior cinema do Brasil: o Piratininga e o Universo, todos com mais de 4000 lugares. O sonho dos paulistanos era ter uma Radio City Music Hall (casa de espetáculos de Nova York) para 7000 pessoas.
Essa obsessão tem raízes históricas. Naquela época, a cidade já era cosmopolita, mas se ressentia da falta de atividades culturais, concentradas no Rio. Para compensar, empresários construíram casas de espetáculos que deveriam ser as melhores e mais luxuosas. O cine Rosário, no prédio Martinelli, na São João, inaugurado em 1929, era revestido em mármore de Carrara e tinha lustres tchecos. Do porteiro ao lanterninha, todos eram bilíngües, e o espectador tinha de usar paletó, gravata e chapéu. Ir ao cinema não era simples como é hoje. A família se preparava durante toda a semana.

Sala de espera do cine Rosário
Até os anos 80, os cinemas se concentravam em torno da Avenida São João. Durante muito tempo, a principal sala da região era o impecável cine Metro. Em 1954, surgia outro templo de luxo, o cine Marrocos, na Rua Conselheiro Crispiniano. Doze anos depois, veio o Olido, primeiro cinema dentro de uma galeria. As sessões tinham música ao vivo.
Cine Marabá: trajetória de luxo
O Marabá não nasceu para ser um cinema popular. Quando foi inaugurado, na Avenida Ipiranga, no dia 13 de maio de 1945, com o filme “Desde que Partiste” (“Since You Went Away”), que tinha Claudette Colbert e Shirley Temple no elenco, rivalizava em luxo com o cine Metro, 500 metros adiante, na Avenida São João.

As dondocas da época passeavam pela elegante Rua Barão de Itapetininga (muito antes dos calçadões e dos trombadinhas), saboreavam um chá na confeitaria Vienense e depois se dirigiam ao cine Marabá.
Quem não tinha dinheiro fazia um programa diferente. Assistia a um filme no Ipiranga (em frente ao Marabá) e, na saída, passava pela vizinha Salada Paulista, que só servia salsicha com uma prosaica salada de batatas. E vivia cheia. Comia-se de pé em um balcão com dezenas de garçons. Quando um deles recebia uma caixinha, anunciava em voz alta: “Caixinha!”. Os demais garçons, sempre sorridentes, respondiam em coro: “Obrigado”.
Mas o que não faltam são histórias dessas grandes e antigas salas de cinema da cidade:
Clube do Bolinha
Nudez e sexo eram inadmissíveis nos cinemas nos anos 30, mas os exibidores encontravam uma brecha. Como a censura deixava passar documentários sobre colônias de nudismo, promoviam-se sessões especiais com esses filmes “só para público adulto” e “proibido para senhoritas”.
Tragédia na matinê
Em 1938, uma tragédia resultou na criação das primeiras normas de segurança para as salas de cinema. Durante uma matinê dominical no cine Oberdan, no Brás, um falso alarme de incêndio provocou pânico e 30 crianças e um adulto morreram pisoteados.
Protesto explosivo
No cine Ouro, em maio de 1986, um evangélico explodiu uma bomba caseira em protesto contra os filmes de sexo explícito.
Namoro proibido
Namoro no escurinho do cinema tinha limite. Casais fogosos eram levados à gerência e ameaçados de encaminhamento para a Delegacia de Costumes (uma delegacia de polícia especializada em defender “a moral e os bons costumes”).
Fila boba
Quando os exibidores decidiram acabar com a meia-entrada, os estudantes protestaram com a chamada “fila boba”. Um grupo de estudantes formava uma fila e, quando chegava à bilheteria, não comprava ingresso. Da bilheteria, retornava ao fim da fila.
Santa pornografia
Com o fim da censura, o governo pretendia criar salas especiais para os filmes pornográficos. Mas a onda pornô foi mais forte. Assim, surgiram salas pornô com nome de santos. Debaixo do nome do cinema – São José, por exemplo – vinha o cartaz do filme “Orgias Diabólicas”. O jeito foi mudar o nome do cinema.
De saia pode

Em 1956, o arquiteto e artista plástico Flávio de Carvalho desafiou as rígidas regras dos cinemas de luxo, que exigiam paletó e gravata e foi ao Marrocos, o mais requintado da época, usando saia. Ele defendia a tese de que a saia era o traje mais adequado para uma cidade tropical. Entrou sem problemas.

O cine Ipiranga e a Mostra de Cinema de 2004

Em 2004, Leon Cakoff e Renata de Almeida, diretores da Mostra BR de Cinema, realizaram a cerimônia de abertura do evento no cine Ipiranga, uma das mais tradicionais salas da cidade (de 1943), perto da esquina imortalizada pela música “Sampa” (Rua Ipiranga e Avenida São João).

Com mais de 1000 lugares, o Ipiranga é uma das maiores salas de São Paulo. Segundo Cakoff, a decisão de abrir a Mostra no espaço foi um “manifesto”, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que tomam decisões para um cinema histórico e, assim, “mostrar a importância da preservação do parque cinematográfico da cidade”.
Mesmo em estado de abandono*, a sala recebeu um belo tratamento de iluminação e de decoração para receber os convidados da noite (quinta-feira, dia 21 de outubro), que assistiram ao filme de Wim Wenders, “Terra da Fartura”. Estava nos planos de Cakoff, a integração definitiva do Ipiranga ao circuito de cinemas de arte de São Paulo e da Mostra. Mas faltavam ainda condições para sua devida recuperação. A Mostra, também, incorporou à sua grade de programação outra antiga sala de rua, o cine Olido, que havia sido, recentemente, reformada.

Hector Babenco e Arnaldo Jabor marcaram presença na abertura da 28ª Mostra BR de Cinema. Babenco elogiou o talento de Leon Cakoff, para descobrir novos cineastas e novas cinematografias (a marca registrada da Mostra), enquanto Jabor adorou “Terra da Fartura”.
Texto do site Filme B, de 25/10/2004.
* O cine Ipiranga fechou 10/02/2005.

O cine Ipiranga é tombado pelo Patrimônio Histórico

Local foi fundado em 1943 e viveu o auge dos cinemas de rua em São Paulo
O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) tombou o espaço interno do tradicional cine Ipiranga, localizado na avenida de mesmo nome, na capital. O local foi fundado em 1943 e viveu os grandes momentos dos cinemas de rua na região central. Fechou em 10/02/2005 e encontra-se fechado e sem previsão de reabertura.

A parte externa do cine Ipiranga já havia sido tombada pelo Conpresp. O prédio é um projeto do arquiteto Rino Levi, que realizou na cidade outras obras famosas, como a sede do Teatro Cultura Artística, que pegou fogo em 2008. "É importante preservar o cine Ipiranga porque é um projeto do Rino Levi, que representa bem a obra dele. Além disso, é um cinema bem resolvido e inovador", diz o presidente do Conpresp, o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre.

O espaço está intacto desde o fechamento, em 10/02/2005. O aspecto "inovador" do cine Ipiranga está principalmente na disposição da tela e no acesso do público. "Ao contrário dos outros cinemas e casas de espetáculos, a tela está colocada na direção da rua e as pessoas entram passando por baixo da plateia", diz Lefèvre.
O espaço tem capacidade para cerca de 1100 pessoas. Um dos pontos que vai precisar ser modificado ou pelo menos adaptado diz respeito à quantidade de salas de exibição. O projeto original contemplava uma única sala, mas depois de algumas décadas o local foi adaptado para ampliar os ganhos, pois poucos filmes lotavam a casa e havia a oportunidade de realizar duas exibições ao mesmo tempo. "Duas salas poderão existir, desde que haja possibilidade de se manter o projeto original, talvez usando painéis removíveis", diz o relator do processo de tombamento, o arquiteto Vasco de Melo, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) no Conselho.
Com o tombamento, o Conselho preserva um exemplar de arquitetura moderna da chamada "Cinelândia paulistana" (área perto da Avenida São João, entre o Largo do Paissandú e a Avenida Duque de Caxias, que entre as décadas de 1940 e 1960 reuniu mais de 20 salas de cinema). Pouco a pouco, alguns espaços são revitalizados, como o cine Olido e o Marabá, mas a maioria dos outros cinemas acabaram mesmo se transformado em estacionamento, igreja ou cinema pornô.
Texto de Renato Machado e Vitor Hugo Brandalise, publicado no jornal 
O Estado de S.Paulo, de 07/10/2009.

As primeiras projeções na cidade de São Paulo

Por Máximo Barro
Em todas as partes do mundo, o cinema foi antecedido por vários produtos que, funcionando como antenas previsoras, abriam caminho para a grande novidade. Em São Paulo, os fatos sucederam-se segundo o manual de qualquer história do cinema: instrumentos óticos, grandes painéis, sombras chinesas e outros artefatos encobertos por pomposos nomes de origem latina ou grega.
Em 1834, Jean Jacques Vioget pede licença para abrir na cidade uma “câmara ótica para divertimento público”, certamente uma lanterna mágica incrementada.
Já no fim do século, alguns pacatos cidadãos, como Benjamin Schalk, possuem uma lanterna mágica com 250 discos, enlevo dos familiares e vizinhos.
A partir de 1890, os jornais anunciam com certa constância o “Teatro Mecânico Cardinalli”, “Panorama-Diorama” e os fonógrafos, irmãos xifópagos do kinetoscópio. Por último, o cinema.
No dia 7 de agosto de 1896, na primeira página do jornal “O Estado de S.Paulo”, aparecia um artigo, evidentemente pago, intitulado “Um pouco de Sciência”. Nele fazia-se uma síntese daquilo que hoje chamamos de pré-história do cinema. Falando em Marey, Lumière e Edison, entre outros, citava inúmeros aparelhos científicos que redundariam no cinematógrafo, que obtinha enorme sucesso em Paris e em outras grandes cidades européias. O trabalho era uma tradução de um artigo francês de George Villoux.
Este artigo continuou no dia 9, quando informou que um kinetoscópio funcionara meses atrás na paulicéia. Nada obtivemos nos vários jornais consultados que confirmasse esta informação.
Ao artigo do dia 9, que deixava entrever claramente uma continuação, fez-se um longo intervalo e só a 17 de agosto teríamos a terceira parte. Na conclusão, em notícia de rodapé, anunciava simplesmente que o cinema já se encontrava em São Paulo, funcionando num prédio.
Não encontramos neste jornal nenhuma referência, nem mesmo junto aos anúncios de teatros, que localizasse a rua, horário, preços e demais informações comuns ao gênero de diversões.
Porém, no dia 8 de agosto, ainda na primeira página, aparecia um artigo com o título:
Photographia Animada
“Realizou-se hontem à noite, com a assistência do Presidente do Estado e de alguns convidados, a repetição geral do cinematographo, aparelho que reproduz num alvo, scenas variadas, dando-lhes realce e cunho de vida, o que valeu a este processo de photographia, o nome de Photographia Animada.
Constou o programa das seguintes vistas:
O banho dos sudanezes;
O cachorro: dois cachorros nadando;
O carroção;
O trem: um trem parado numa estação com o vaivém dos passageiros;
O meil-coack de volta das corridas;
O bebezinho: uma criança brincando com cachorros numa sala;
A Praça da Bastilha.
Sem entrar em detalhes, pois a todos será em breve dado deliciarem-se com estes espetáculos, resumiremos as nossas impressões nestas palavras: admirável, assombroso. É digno de louvores, o photographo Sr. Renouleau que introduziu nesta Capital o primeiro Cinematographo que trabalha na América do Sul.”
Apesar da clara orientação comercial do anúncio, este é um dos raríssimos documentos críticos sobre uma projeção cinematográfica em São Paulo, até fins de 1899, que conseguimos. Nele algumas coisas ficam confusas para o pesquisador que procura dados exatos. Por longo tempo ficamos confusos com a aparente incoerência de noticiar-se “a repetição geral, quando na verdade aquela era uma sessão inaugural. Abordando o assunto com uma pessoa amiga, ela nos sugeriu que “repetição geral” bem podia ser uma tradução literal e errada de répétition générale. Pesquisas posteriores confirmaram a suposição. Répétition générale na França corresponderia, aqui no Brasil, a uma primeira sessão especial, para público selecionado, normalmente em trajes de cerimônia.
Após a enumeração dos filmes, anuncia-se que “em breve seria dado deliciarem-se..., coisa que não coordena com a realidade, pois no dia 8, a “Platéia” e o “Diário Popular” inserem os primeiros anúncios da projeção de cinema em jornais de São Paulo.
Do emaranhado de informações que uma redação inábil quase transforma em hieróglifo, podemos concluir que a primeira sessão de cinema em São Paulo deu-se, de forma privada, a 7 de agosto, com a presença de Campos Sales, secretários de Estado e familiares, podendo equiparar-se às que Lumière deu, por exemplo, em março e setembro de 1895, quando dos congressos de fotografia. A pública e paga aconteceu no dia imediato, 8 de agosto, sábado, que na época devia ser o mais propício, pois a maioria das estréias teatrais acontecia nesse dia da semana. Foi também num sábado, a 28 de dezembro de 1895, que o cinema Lumière teve seu batismo público na França.
Parte do texto “As primeiras projeções na cidade de São Paulo”, de Máximo Barro, publicado no periódico “Filme Cultura” - nº 47 - Agosto de 1986.
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Máximo Barro
Produtor, diretor e montador de diversos curtas e longas-metragens. Foi professor da FAAP. Atualmente, atua como pesquisador cinematográfico. É autor de vários livros, entre eles:
“A primeira sessão de cinema em São Paulo” – Editora Tanz do Brasil – 1996
“Caminhos e descaminhos do cinema paulista: década de 50” Editora do Autor – 1997
“Vittorio Capellaro – O caçador de diamantes” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – 2004
“Sérgio Hingst – Um ator de cinema” – Coleção Aplauso – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – 2005
“José Carlos Burle – Drama na Chanchada” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo - 2007
“Agostinho Martins Pereira – O idealista” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo” – 2008
Os livros da “Coleção Aplauso” são encontrados nos sites “2001 Video” e “Livraria Cultura” e os demais livros no site “Estante Virtual”.

O último pianista de cinema

Primeiro, o cinema falado passou a falar por eles. Depois, os velhos casarões que se pretendiam respeitáveis e recebiam platéias de paletó e gravata, substituiu-os por discos, para uma platéia apressada, que preferia comer pipoca entre uma sessão e outra. Finalmente, ir ao cinema passou a ser algo tão trivial, que nas salas não cabia mais o luxo de pianos ou porteiros de casaca. Os músicos de cinemas, que acrescentavam algo aos filmes mudos ou distraíam a platéia nos intervalos, foram tocar em rádios, bandas ou cabarés. Alguns - como Heitor Vila-Lobos e Ernesto Nazaré - saíram de lá para a glória. Outros mergulharam no anonimato eterno. Mas, no início dos anos 70, pelo menos um, no centro de São Paulo, ainda emitia seus sons e todas as noites, antes das sessões de 20 e 22 horas do cine Ouro, uma voz anunciava: “Senhoras e senhores, boa noite. Este é o único cinema que oferece a seus freqüentadores, alguns minutos de agradável entretenimento musical. E estes minutos agradáveis, o cine Ouro vai agora lhes proporcionar, apresentando ao piano, o renomado professor Francisco José Gorga”. A platéia permanecia muda. O renomado professor entrava em cena e sentava-se ao seu piano Beckstein de meia cauda.

O pianista, Francisco José Gorga, paulista de Porangaba, também tinha algo a dizer antes de tocar: “Tenho o prazer de executar para senhoras e senhores assistentes, dois números musicais. Primeiro, uma valsa de Chopin, e depois, em arranjo de minha autoria, “Quero que vá tudo para o inferno”, de Roberto Carlos. Tocava, a platéia aplaudia e começava o filme. O ritual se repetia desde 1964, quando o cine Ouro (1700 lugares) passou por uma reforma que lhe deu a aparência de um prédio colonial, decorado com motivos de Ouro Preto. Ostentava imitações de estátuas do Aleijadinho, vigas de madeira no teto, lembrando construções antigas, tapetes grossos e cópias de janelas e portas dos antigos sobradinhos mineiros.
No início dos anos 70, mesmo sendo um dos cinemas mais baratos da cidade e geralmente apresentando reprises ou filmes de classe B, o cine Ouro ainda tinha um toque de nobreza – o gerente estava sempre de smoking – apropriado para a cerimônia de um número musical ao vivo. O professor Gorga se sentia bem ali. Estudou na Itália, enfrentava o público desde 1925, ano em que tocou pela primeira vez, no cabaré Scala, passando, também, por teatros e rádios de vários estados brasileiros. Para ganhar os “900 cruzeiros” mensais que o cinema lhe pagava, tinha versatilidade bastante para tocar de tudo (mas sempre de acordo com o filme em cartaz) e paciência de sobra para saber que nem sempre gostavam dele. “Chega!”, gritou-lhe uma vez um espectador, entre um número e outro. “Mas que bela educação!”, desafiou o pianista. A platéia aplaudiu. E ele tocou mais uma vez. Foi o único incidente que o envolveu em anos. “O público que me escuta não tem obrigação de bater palmas. Mas, se escuta, é porque tem algum sentimento em relação à música e por isso nos entendemos quando toco”, disse o pianista.
Alto, grisalho, terno bem talhado, unhas bem feitas, Gorga falava com a voz polida dos grandes cavalheiros. Ele era fiscal de conservatórios da “Comissão Estadual de Música” e, além de piano, também ensinava violoncelo, harmônica, violão, clarinete e pistom. Escrevia muito em jornais, mas gravou muito pouco (uma única composição sua “Choro em Lá Menor”, em 1946). Ele não parecia muito preocupado com sua posteridade. Casado, pai de um filho, só lamentava que o ensino de música, que ele analisou em muitos artigos, era muito fraco no Brasil. Glória? Não fez parte de suas ambições. Fortuna? Também não. E aplausos dos freqüentadores do cine Ouro? De modo algum. Solitário na sua profissão, último representante de uma espécie extinta, sabia exatamente até onde ia a sua arte: “Toco para uma única pessoa ou para uma casa lotada. Na verdade, eu toco sempre para mim mesmo”.
Fonte de pesquisa: Revista “Veja” (1971) - Foto de Teo Nunes

Tempos de Censura

Por Antonio Ricardo Soriano
“Toda Nudez Será Castigada” e “Sacco e Vanzetti”
Em 22 de Junho de 1973 (sexta-feira), as luzes do cine São Geraldo, em Belo Horizonte, acenderam-se no meio da sessão e uma voz não identificada intimou os espectadores de “Toda Nudez Será Castigada” a esvaziarem a sala. Foi uma “grosseria”, segundo a platéia escorraçada e os jornalistas proibidos de noticiarem a expulsão. Dez filmes haviam sido censurados e teriam que ser retirados de cartaz em todo o país, sob a acusação de serem pornográficos e subversivos.
A pressa da Censura de Belo Horizonte não teve seguidores em outros lugares (certamente porque as repartições públicas não trabalhavam nos fins de semana). Por isso, no final de semana (23 a 24 de junho), as filas nas portas dos cinemas se espicharam. Na trabalhosa e às vezes divertida caça ao brinquedo proibido, as filas iam tecendo sua rede de dúvidas, ou indignação, ou frustração. Todos queriam saber o que lhes havia sido vetado.
Em São Paulo, o cine Gazeta vinha vendendo, diariamente, uma média de 400 ingressos do filme “Sacco e Vanzetti” (mais um dos censurados), mas, no sábado (23 de junho), 2500 pessoas espremeram-se no cinema.
“Aquilo não era uma fila, parecia um comício. Me deu um medo danado”, contou o gerente do cine Gazeta, Abílio Garcia, que se confessava impotente para atender aos telefonemas e controlar um modesto câmbio negro na porta. Vários rapazes compravam ingressos (8 cruzeiros) para vendê-los por 10.
O esforço das platéias foi premiado por elas mesmas. As cenas mais inflamadas de “Sacco e Vanzetti” e as mais ardentes de “Toda Nudez” ganhavam aplausos.
Os 10 filmes banidos pela Censura acabaram, realmente, saindo de cartaz na segunda-feira (25 de junho). Na quarta, o cine Gazeta colocava um cartaz de “Sacco e Vanzetti” na porta e desafiava, em letras vermelhas: “Brevemente este filme voltará a ser exibido”.
“Laranja Mecânica” e “O Último Tango em Paris”
Também, em 1973, em Porto Alegre, uma agência de turismo organizou a “Excursão Laranja Mecânica”, que levou 36 fanáticos por cinema a Montevidéu para assistirem a “A Clockwork Orange”, proibido no Brasil. Outra agência, a Unesul, organizou a “Operação Último Tango”, igualmente rumo a Montevidéu. No Uruguai não existia a censura de filmes, apenas recomendações de um conselho, que mandava colocar uma franja verde nos cartazes dos filmes considerados eróticos e uma vermelha nos violentos.
“Dona Flor e seus Dois Maridos”
Em 1977, as pessoas que passavam diante do cine Ipiranga, no centro de São Paulo, assistiam literalmente a uma troca de cartazes, só que do mesmo filme, “Dona Flor e seus Dois Maridos”. Por ordem da Polícia Federal, o cinema teve que arrumar às pressas um pintor que acrescentou ao cartaz original um calção no despido ator José Wilker e, com a arte possível, desviou para frente a mão que antes repousava nas nádegas de Sônia Braga. O espaço de sobra nesta parte do corpo da atriz foi, finalmente, tapado com uma pincelada de tinta, provocando um efeito semelhante ao dos socos nas histórias em quadrinhos.
“O Encouraçado Potemkin”
Em 1980, voltou a ser exibido em circuito comercial, o filme “O Encouraçado Potemkin”, do russo Serguei Eisenstein. O filme estava banido das telas brasileiras durante dezesseis anos.
O filme soviético, feito em 1925, saiu de cena em 1964, depois de ter sido aberto um inquérito para investigar sua exibição para marinheiros. Desde então, ele trafegava por um circuito semiclandestino formado por salas de universidades e cinematecas. O filme é mudo e descreve, em preto e branco, a rebelião dos marinheiros russos contra a ditadura czarista, em 1905. Os subalternos do navio de guerra matam seus oficiais e essa subversão da hierarquia levou a Marinha Brasileira a vetar a obra de Eisenstein.
A liberação foi formalizada pela Polícia Federal em fevereiro de 1980, para maiores de 10 anos e a sua primeira exibição foi em 1º de maio. Logo no primeiro dia, 899 pessoas passaram pelas bilheterias do cine Paramount, em São Paulo.
Fonte de pesquisa: Revistas “Veja” de 1973, 1977 e 1980

Tempos de Tubarão

Revista “Veja”, 31 de Dezembro de 1975.
Comprimida diante dos cinemas Gemini 1 e Gemini 2, na Avenida Paulista, em São Paulo, a multidão ondulava num incontrolável empurra-empurra. De repente, em meio a cotoveladas, palavrões e olhares raivosos, uma voz exaltada anunciou, sem maiores explicações, que pretendia “quebrar o vidro da bilheteria”. Nesse momento, o solitário guarda de segurança José Pereira Guimarães decidiu intervir de maneira drástica. E, empunhando revólver e cassetete, tentou organizar em filas, as centenas de paulistanos que afluíram à sessão das 17h20 para assistir ao filme “Tubarão”.

Contudo, nem a severa reação do guarda Guimarães fez a turba recuar. E o soldado do Exército Paschoal Mauro, que afinal já perdera duas horas do seu dia de folga no truculento corpo-a-corpo defronte aos Gemini, avançou para o guarda e bradou: “Puxar revólver, não! Isso aí mata, falei?” Os ânimos só serenaram quando o gerente Sérgio Araújo Câmara, pela quarta vez em dois dias, solicitou reforços da polícia. Com alguma rispidez, treze policiais desembarcados de quatro viaturas logo reduziram a multidão a disciplinadas filas.
Todos, então, puderam entrar, com exceção dos que, por um equívoco dos milicianos, se alinharam justamente numa fila que não conduzia a parte alguma. Nada mais natural. Nos últimos dias, o Brasil está entregue a mais um desses delírios cinematográficos, com a estréia simultânea de “Tubarão” em todas as grandes cidades. E junto às extensas procissões de candidatos a espectadores, os incidentes tornaram-se inevitáveis.
Em São Paulo, mesmo vendendo ingressos a 20 cruzeiros, todos os seis cinemas que exibiram “Tubarão” ostentavam, nos dois primeiros dias, filas com mais de 100 metros de extensão. E, somente no cine Paulistano, a cada sessão, cerca de 1000 pessoas disputavam avidamente as 610 poltronas da platéia.
Quais as razões de tanto interesse pelo filme, num país que há pelo menos quinze anos não tem notícia de pessoas mortas por tubarões? Em primeiro lugar, naturalmente, vem a maciça campanha publicitária que precedeu o lançamento. Depois, o êxito do livro de Peter Benchley, que serviu de roteiro para o filme. Finalmente, há o evidente fascínio exercido sobre milhares de brasileiros pelos “filmes-desastre”, que sempre conseguem juntar platéias espantosamente participantes. Pois a verdade é que, no escuro das salas, as reações dos espectadores assumem formas ainda mais surpreendentes.
As cenas de abertura, por exemplo, são recebidas com apuros, aplausos e estridentes assovios. Depois, sucedem-se gritos, exclamações medrosas, interjeições entusiasmadas e, nos intervalos das cenas mais emocionantes, singulares batalhas de cigarros acesos.
Seja como for, ao cabo das duas horas de projeção são sempre raros os descontentes com os resultados dramáticos do filme. E alguns, como o radiotelegrafista paulista Silvio Coimbra, deixam o cinema especialmente impressionados: “Não pretendo voltar à praia”, dizia ele na saída do cine Paulistano.

No tom certo

Por Alex Xavier (Jornalista do jornal "O Estado de S. Paulo")
Antes de o filme começar, já reparou naquela vinheta barulhenta que testa as caixas de som do cinema? Depois, surgem nomes como Dolby Surround ou DTS 5.1. E o público, se entendesse exatamente o que significam, ficaria tranqüilo quanto à qualidade do sistema de áudio da casa.
Dolby e DTS são empresas concorrentes que há décadas dominam o mercado de equipamentos de som para cinema. O tempo do analógico se foi e uma boa sala hoje precisa ter, pelo menos, um sistema digital 5.1 (com cinco canais de áudio espalhados corretamente pela sala mais um especialmente para freqüências baixas). Mais recentemente, a Dolby ainda idealizou outros dois canais atrás da platéia, o Dolby Digital EX.
Se para um leigo isso tudo soa grego, para Luís Henrique Ciocler é algo que remete à infância. Ele dirige a maior empresa brasileira no ramo de equipamentos para cinema, a Centauro, que ele herdou do pai, o imigrante romeno Abram Ciocler. A companhia, que começou fabricando projetores no fim dos anos 30, monta (ou fornece material para) a maioria das salas de São Paulo.
Hoje ele também forma os poucos técnicos que asseguram no Brasil o alto padrão de som das salas THX, espécie de selo de qualidade criado pelo cineasta George Lucas para as salas que seguem normas técnicas rígidas.
“De modo geral, a qualidade das salas deve melhorar, por exigência do próprio público”, acredita Ciocler. E onde seria o melhor lugar no cinema para curtir o som do filme? “Se eu contar, nunca mais encontro um lugar bom vago”, brinca, antes de abrir o jogo: no meio, mais próximo do fundo da sala. Anote.
GLOSSÁRIO
Dolby e DTS: são as marcas de equipamentos de som para cinema.
THX: é o selo de qualidade de salas com alto padrão de sistema de áudio
Conheça o site da Centauro Cinema clicando aqui.
Texto autorizado pelo autor e publicado, também, no "Guia Especial" do jornal "O Estado de S.Paulo", em 25/02/2008.

O cantor Daniel inaugura o Cine São José em Brotas (SP)

A cidade de Brotas, a 236 km da capital paulista, viveu uma festa inesquecível em 4 de março deste ano. Motivo: o cantor Daniel, um de seus “filhos” mais famosos, reuniu os amigos e a imprensa para a inauguração do Cine São José, que estava fechado há mais de 20 anos.

O projeto de Daniel, de restaurar o cinema de sua cidade, nasceu antes mesmo dele receber o convite para estrelar o filme “O Menino da Porteira”. Por iniciativa própria, e sem o apoio de leis de incentivo à cultura, o cantor comprou o imóvel e planejou toda a sua reestruturação.

Na parte técnica, foi instalado o que há de mais moderno em equipamentos de projeção e sonorização. Na parte estética, Daniel optou por manter as características originais do cinema (com direito a cortina de veludo e o tradicional gongo, por exemplo), adicionando alguns charmes de modernidade. Entre eles, um aconchegante café no piso térreo, e uma animada choperia no piso superior.

Além de exibir filmes em 35 mm, o Cine São José também está equipado para shows musicais e peças teatrais, em função das proporções generosas de seu palco. Somando platéia e camarotes, são 401 lugares de muito conforto.
Na festa de inauguração, estiveram presentes várias personalidades do mundo artístico, como a apresentadora Xuxa, os cantores Alexandre Pires e Sérgio Reis, e Luciano da dupla Zezé de Camargo & Luciano, entre outros.

Todos prestigiaram a grande estréia da noite, que não poderia ser outra além de “O Menino da Porteira”, filme protagonizado pelo próprio dono da festa.
Texto de Márcio Shimpizza, publicado no site Baladas, em 06/03/2009.
Esta postagem foi, gentilmente, indicada por Eder M. Delatore, um grande leitor deste blog.

Cine Centímetro: réplica do cine Metro-Tijuca em Conservatória (RJ)

Por Antonio Ricardo Soriano
O proprietário do cine Centímetro, Ivo Raposo, nasceu perto da praça Saens Peña, na Tijuca, que era conhecida como a 
Cinelândia da Tijuca, de tantos os cinemas que ali se instalaram.

Havia mais cinemas do que na tradicional Cinelândia, no centro do Rio. Havia o América, o Tijuca Palace I e II, o Cinema 3, o Cooper-Tijuca, o Carioca, o Tijuquinha, o Olinda, o Metro-Tijuca, o Art-Palácio, o Art-Tijuca , e outros. Nos anos 70, a praça e seus arredores contavam com 12 cinemas: cine Avenida, cine-teatro Brasil, cine Santo Afonso, cine Santa Rita, cine Madrid, cine Eskye, cine Roma, cine Britânia, cine Bruni Saens Peña, cine Rio, cine Comodoro e cine Bruni Tijuca.

Cine Metro-Tijuca - Foto
Ivo Raposo freqüentava, quase que diariamente, todos estes cinemas, mas o fascínio veio do cine Metro. Aos 13 anos foi projecionista (operador) em um cinema de igreja atrás da referida praça. Lá viveu as mesmas emoções do Totó, do filme “Cinema Paradiso”. Havia sempre matinês lotadas, algazarras e cortes de fotogramas, previamente, “censurados” pelo padre encarregado do cinema. Comandou, pela primeira vez, dois projetores Phillips Fp5 (a carvão) exibindo o filme “Marcelino Pão e Vinho”, nos idos de 1957 e 1958. Ingressou no "Sindicato dos Operadores Cinematográficos do Rio de Janeiro" e, em 1963, inaugurou um luxuoso cinema, próximo à praça Saens Peña, chamado Bruni Saens Peña, com o filme “Minha Doce Gueixa”. Em 1964, trabalhou como operador da "Universal International" exibindo filmes inéditos para a diretoria (Marnie, Charada, etc.). Depois ingressou, através de concurso, para o serviço público e, atualmente, já completou mais de 35 anos como Delegado de Policia.

Porém a paixão pela “imagem em movimento” aumentou a cada dia e em seu rancho, em Conservatória, interior do Estado do Rio de Janeiro, possui três cabines com projetores de 35 mm. A de maior destaque é a do cine Centímetro, que é uma réplica reduzida do antigo cine Metro-Tijuca, inaugurado no Rio de Janeiro em 1941 e demolido em 1977. O charme fica por conta dos objetos originais do antigo cinema, como móveis, pedaços de tapete, lustres, bilheteria e os três projetores Simplex.

Isso sim que é paixão por salas de cinema! Paixão, determinação e criatividade. Parabéns, Ivo Raposo! Que o cine Centímetro sirva de exemplo para o todo o país, para que possamos ter mais exemplos de preservação de antigos cinemas, nem se tiver que refazê-los em outro local, como acabou ocorrendo com Metro-Tijuca.
O cine Centímetro, tem sessão única aos sábados e é muito concorrida, pois exibe em sua tela, clássicos do cinema, 
dos anos 50 e 60.
Cine Centímetro
Rua José Ferreira Borges, 205 - Corservatória - RJ
Telefone: (24) 2438.1815
Ivo Raposo - Telefone: (21) 2235.2543 - Celular: (21) 9997.6223
E-mail: ivorapososter@gmail.com
Caro Ricardo 
Fiquei super feliz com o blog. É difícil resumir 50 anos de paixão em algumas linhas, mas você conseguiu passar para o texto uma fase importante em minha vida com maestria informatizada... A infância e a maturidade dariam outros capítulos. - Ivo Raposo

CINEMATECA BRASILEIRA - FOLHETOS DE SALAS

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.